Um clima de alianças estratégicas marcou o encontro estadual do Partido Rede Sustentabilidade (Rede) da Paraíba, realizado no último sábado. O evento, que teve como cerimônia central a passagem da gestão atual para uma nova direção, tendo sido eleitos Eduarda Almeida e Gerson Vasconcelos, como atuais porta-vozes (presidentes) estaduais da Rede Sustentabilidade na Paraíba.

A nova direção foi oficializada em um encontro em João Pessoa, neste sábado (25/10) após o qual os novos dirigentes e a formação partidária foram apresentados. Vale lembrar que Cristiane Almeida é a presidenta que deixa o cargo e passou a faixa pra filha Duda Almeida.

Transformou-se o palco num espaço mais amplo, reunindo representantes de legendas federadas e progressista, ecoando discursos uníssonos em defesa da justiça social, do fortalecimento das mulheres na política e do projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026.

A solenidade, que atraiu olhares além-muros do partido anfitrião, contou com a presença de figuras emblemáticas da esquerda paraibana. Representando o Partido dos Trabalhadores, compareceu o jornalista Eli Mariotti, secretário de Desenvolvimento Econômico da legenda no estado, convocado pessoalmente pela primeira mulher presidenta estadual do PT, a deputada Cida Ramos, para ali estar como representante do partido.

No evento defendeu a união de todos os partidos da esfera progressista para a reeleição do Presidente Lula, ao mesmo tempo em que reforçava a extrema necessidade do aumento de parlamentares da esquerda na AL, no Congresso e no Senado que fossem inequivocamente, a base fiel do um provável governo progressista na próxima gestão federal.

Como secretário de Desenvolvimento Econômico do PT Paraibano e também gestor da Feira Popular Paraibana, sua presença não foi meramente protocolar, assumiu como porta voz das empreendoras e empreendedores da economia criativa e popular e convocou a todos os partidos presentes para que se unissem em trabalhar para aprovar políticas públicas para as mulheres deste segmento econômico, cujo gênero ser faz presente em pelo menos 90% desta categoria.

O Partido Verde (PV). esteve presente, na pessoa do presidente estadual do PV, sargento Denis, reforçando os laços que unem as siglas da Federação da qual o PT faz parte.

Tárcio Teixeira, representante do PSOL paraibano e presidente da federação partidária que abriga o próprio Rede Sustentabilidade, também estava presente e discursou. A cena era clara: no tabuleiro da política paraibana, as peças se movem de forma coordenada, e o evento do Rede serviu como um momento de congraçamento e reafirmação de objetivos comuns entre essas forças progressistas.

O vice-governador Lucas Ribeiro compareceu rapidamente e antes da cerimônia começar, fez um breve discurso de pré-candidato. Também esteve presente Léo Bezerra, vice-prefeito de João Pessoa e que compôs a mesa.

O protagonismo feminino foi um dos eixos centrais dos discursos que ecoaram no encontro.

O empoderamento das mulheres como conquistadoras de seu espaço na política e em todos os setores da sociedade foi exaltado como um valor inegociável para o campo progressista. Os oradores, um após o outro, entrelaçaram essa bandeira com a defesa intransigente da justiça social e, sobretudo, com um apelo fervoroso pela reeleição do presidente Lula, visto como o pilar central para a sustentação dessas conquistas em nível nacional.

A ambição dos presentes, no entanto, não se limitou ao Planalto. Os discursos colocaram na mesa uma necessidade pragmática e urgente: a de trabalhar incansavelmente para ampliar a bancada de parlamentares progressistas.

O objetivo declarado é ambicioso – igualar ou, preferencialmente, dominar a correlação de forças no Congresso Nacional e em especial, na Assembleia Legislativa da Paraíba. A mensagem era de que a vitória presidencial é fundamental, mas terá muitas dificuldades sem uma base parlamentar sólida que permita desobstruir a agenda do governo e travar as batalhas legislativas que se avizinham.

O encontro do Rede Sustentabilidade da Paraíba, portanto, foi mais do que uma simples troca de comando partidária. Foi um microcosmo da estratégia da esquerda paraibana.

Eli Mariotti




A notícia de que a venezuelana María Corina Machado recebeu o Prêmio Nobel da Paz surpreendeu o mundo e supostamente até mesmo ela, que declarou: “Estou chocada”— e confesso que também me chocou. Não pelo estranho reconhecimento em si, mas pelo simbolismo político que essa escolha carrega.

Mas se eu fiquei chocado, será que Corina estava realmente chocada? Ora, se ela foi indicada para o prêmio por Marco Rubio, que todos sabemos quem é, como ela não saberia disto? A tão falada influência dos governos norte americanos no Nobel é de conhecimento geral no planeta. Mas porque o Nobel, que é europeu e tem influência direta da União Europeia, se deixa dirigir pela política externa norte americana?

Será por subserviência? Não creio. O fato é que os interesses norte americanos se enquadram exatamente na visão colonial que a Europa tem do chamado Terceiro Mundo, nesse caso em especial, a América Latina. 

A cada nova premiação, o Comitê Nobel revela mais de si do que de seus laureados. E neste caso, o prêmio parece dizer menos sobre a paz na Venezuela e mais sobre o olhar com que a Europa ainda enxerga a América Latina: um olhar de tutela, de missão civilizatória, de poder moral sobre o destino alheio.

O argumento oficial para o prêmio é conhecido: Corina teria sido agraciada por sua “luta pacífica pela democracia” e pela “resistência ao autoritarismo”. Mas, na prática, trata-se de uma figura cuja atuação política foi marcada pela polarização, pela instabilidade e pelo alinhamento direto com os interesses de Washington e Bruxelas. 

É portanto, legítimo questionar se o Nobel, nesse caso, premiou uma defensora da paz — ou apenas uma peça simbólica na engrenagem geopolítica ocidental.

Não entro aqui no mérito do governo Maduro. O que observo é o fato histórico e sociopolítico de que, mesmo com todas as dificuldades, ele tem apoio majoritário do povo venezuelano — o que o torna, ao menos sob o ponto de vista da soberania, uma expressão legítima de um projeto nacional. 

A oposição, por sua vez, tem sido minoritária e sempre dependente do respaldo externo. Então, quando a Europa escolhe Corina como “símbolo da paz”, o que ela faz é legitimar uma oposição que internamente não conseguiu legitimidade nas urnas. Isso não é diplomacia, é interferência política simbólica.

E além de tudo, esse prêmio ainda pode incentivar ou até mesmo legitimar o assédio militar que os Estados Unidos do Governo Trump vêm fazendo a Venezuela. Fato que ao contrário de promover a paz, pode gerar uma crise geopolítica de proporções inimagináveis na América Latina.

Essa não é a primeira vez que o Nobel da Paz se torna um instrumento político. Henry Kissinger o recebeu em 1973, mesmo sendo o estrategista de bombardeios no Vietnã. Barack Obama o ganhou antes mesmo de governar, como prêmio pela esperança, por ser o primeiro presidente negro do Estados Unidos. 

Aliás tenho sérias sérias suspeitas que a direita global se apropriou do identitarismo aí. Mas isso é assunto para outro artigo, e quando eleito presidente, Obama na prática não promoveu a paz. Em alguns momentos foi o contrário.

E é verdade que Yasser Arafat também recebeu o Nobel, em 1994, mas sua luta não pode e nem deve ser comparada a esses casos. Arafat ainda representa uma resistência histórica por um Estado palestino, uma causa humanitária e de justiça social que transcende fronteiras e desafia todas as escalas convencionais da política mundial. 

O Oriente Médio nesse contexto, é um território de dores e de resistências que fogem a qualquer paralelo. Arafat não foi premiado por conveniência, mas reconhecido por uma luta que até hoje, continua sendo travada no campo da dignidade humana e contra o genocídio palestino.

Já no caso de Corina, o prêmio não parece traduzir um gesto de reconhecimento à paz, mas um recado político. O Nobel da Paz historicamente reflete os dilemas do próprio Ocidente. Ora tenta reparar sua consciência, ora reafirma sua influência. 

O caso da Venezuela expõe exatamente isso — o uso do prestígio moral europeu como ferramenta de interferência nos rumos latino-americanos.

O colonialismo europeu, afinal, nunca desapareceu. Apenas trocou de roupa. A Europa que dividiu o continente em 1494 no Tratado de Tordesilhas, que saqueou o ouro do Brasil e a prata de Potosí, que impôs sua fé e sua língua aos povos nativos, continua hoje impondo sua narrativa e seu julgamento sobre o que é democracia, liberdade e paz.

Depois das independências latino americanas, os grilhões mudaram de forma, mas não de essência. No século XIX vieram os empréstimos britânicos e as ocupações francesas sob o pretexto de cobrar dívidas. No século XX, o colonialismo vestiu terno e gravata, FMI, Banco Mundial, planos de ajuste e doutrinas econômicas importadas que submeteram nossos povos à dependência. 

E no século XXI, o colonialismo se tornou simbólico — o poder de quem narra o mundo. Quando a BBC, o Le Monde ou o El País decidem o que é democracia ou autoritarismo na América Latina, estão em essência reafirmando a velha hierarquia de quem fala e quem é falado.

Premiar Corina Machado, é portanto, reafirmar o mito civilizatório europeu. A ideia de que a América Latina precisa ser “corrigida e ensinada”, guiada pela razão ocidental. 

A mesma arrogância que justificou a catequese indígena e a pilhagem de Potosí agora se disfarça de diplomacia humanitária e de reconhecimento moral. A retórica muda, mas o gesto é o mesmo, a negação da soberania e da maturidade política de nossos povos latino americanos.

Enquanto isso, seguem explorando o lítio, o nióbio, a Amazônia, o gás da Bolívia e a soja brasileira. Continuam comprando barato e vendendo caro, ensinando “democracia” e praticando protecionismo. 

E agora, premiam opositores de governos que não se curvam aos seus interesses estratégicos. O Nobel, nesse contexto não é uma celebração da paz, não passa de uma extensão da política externa colonialista.

Por isso, repito, quando Corina declarou estar “chocada” com o prêmio, confesso que me identifiquei. Também estou. Mas o meu choque é outro, meu choque é perceber como o velho colonialismo europeu disfarçado de reconhecimento moral, continua decidindo quem são os heróis e os vilões da América Latina.

E enquanto isso, seguimos tentando ser ouvidos — não como discípulos, mas como povos livres e auto determinados.

Por Eli Mariotti
Imagem criada por IA - Papo de Jacaré

O anúncio de tarifas punitivas de 20% a 50% sobre produtos brasileiros por Donald Trump, respaldado pelo Secretário de Estado Marco Rubio, representa muito mais que uma guerra comercial. É o componente econômico de uma ofensiva política orquestrada contra a democracia brasileira, cujo marco fundamental foi o golpe de estado do 8 de janeiro. Esta investida, que tem como peça do jogo, as sanções pessoais ao Ministro do STF Alexandre de Moraes, expõe uma estratégia multifacetada para intimidar as instituições que garantiram a sobrevivência da República brasileira e influenciar fortemente as eleições de 2026.

DO TARIFAÇO ÀS SANÇÕES: A ESCALADA DO ASSÉDIO ESTADUNIDENSE

A causa imediata do "tarifaço" trumpista é eleitoral - buscar votos no "Cinturão da Ferrugem" americano - mas sua motivação profunda é política. O alvo declarado do Secretário de Estado Marco Rubio, antigo crítico do Brasil e aliado de Jair Bolsonaro, é o Ministro Alexandre de Moraes. As sanções pessoais impostas ao magistrado e sua esposa, sob a acusação espúria de "perseguição política", constituem interferência inédita e grave na soberania judicial brasileira. Moraes, que como presidente do TSE garantiu eleições limpas e como relator do STF desarticulou os financiadores do 8 de janeiro, tornou-se o símbolo da resistência democrática que o bolsonarismo quer ver destruída.

A resposta do governo Lula foi um caso de escola na defesa da soberania. Ao acionar a OMC e denunciar a violação do direito internacional, Lula não defendia apenas produtos, mas o princípio de autodeterminação dos povos. A postura firme, recebendo apoio transversal no Congresso e na maioria inquestionável da população brasileira, projetou o Brasil mundialmente como bastião da democracia, contrastando com o governo Trump, que na figura do cubano Secretário de Estado, acolhe abertamente a agenda dos derrotados no 8 de janeiro. Sim, porque a consolidação das eleições presidenciais de 2022, ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023.

O PARADOXO E A ARMADILHA: INFLAÇÃO E O ACENO ENGANOSO

Ironia do conflito, as tarifas trouxeram alívio involuntário à inflação dos alimentos no Brasil, ao segurar parte da commodity no mercado interno. Este respiro econômico, porém, é mero efeito colateral diante da armadilha maior revelada no "aceno" de Trump a Lula durante a Assembleia Geral da ONU. O gesto, que provocou inédita frenesi midiática, era isca para forçar reunião na Casa Branca onde Lula seria pressionado a negociar suas instituições - especificamente, o STF e a pessoa de Moraes - em troca de alívio comercial.

O Itamaraty, já escaldado pelas humilhações impostas ao Presidente da Ucrânia e ao Presidente da África do Sul, busca realizar esta reunião em local neutro , ou em último caso, por telefone ou por conversa de vídeo. E as negociações, se ocorrerem, serão em campo minado. Lula focará em Aviação (Embraer-Boeing), Aço (isenções tarifárias) e Tecnologia (regulação de Big Techs) - setores de interesse nacional. Mas Trump e Rubio tentarão impor pauta política ideológica com benefícios ou até mesmo anulação da sentença a Jair Bolsonaro. Ceder seria legitimar a interferência estrangeira e enterrar a soberania nacional.

Por outro lado, Trump é conhecido por ser um excelente negociador as portas fechadas, o que pode ser usado por Lula para oferecer um confortável aceno no setor das minerações de terras raras.

O DESESPERO BOLSONARISTA E A FRAQUEZA EXPOSTA

O reconhecimento tácito por Trump, colocando Lula como interlocutor legítimo no seu discurso da ONU, foi terremoto no já frágil quartel-general bolsonarista. A narrativa de "Trump salvador" desmorona quando o próprio ídolo trata com o governo que chamam de "ditadura". Em Washington, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foram vistos em delírio de desespero, tentando sem sucesso convencer aliados republicanos de que o gesto era "falso". A cena mostrou a completa irrelevância política a que foram relegados.

Claro que a expressão de Marco Rubio na plateia da ONU, não foi nada amigável. Mas Trump é um empresário por excelência. Para ele, a ideologia da extrema direita não passa de uma ferramenta de negócios. Portanto, seria talvez de imaginar que a influência de Marco Rubio no gabinete de Trump, não seja assim tão inquestionável.

Ou que talvez, os efeitos negativos das tarifas dentro do próprio território norte americano, esteja fazendo com o Secretário de Estado veja diminuir sua influência sobre o mandatário da Casa Branca.

Enquanto isso, no Congresso Brasileiro, a base bolsonarista, que já perdera força com a prisão de Jair Bolsonaro e seus financiadores, vê definhar sua última tábua de salvação internacional.

Os eventos recentes confirmam que a investida de 8 de janeiro não terminou. Apenas migrou para uma guerra híbrida, travada em novas frentes: econômica (tarifas), diplomática (sanções) e de desinformação (a máquina de fake news amplificada por figuras internacionais).  As sanções a Moraes são, neste contexto, um 8 de janeiro por procuração, na tentativa de conseguir por pressão externa, o que não se conseguiu com quebradeira e terrorismo doméstico.

Isso explica o desespero bolsonarista em Washington e no Congresso, depois da abertura ao diálogo que Trump disponibilizou publicamente a Lula na ONU. Trump não é conhecido por “rasgar seda” para quem ele considera adversários. Portanto, há uma nova luz no fim do túnel.

O GAMBITO DA RAINHA E A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA COMO ÚNICO CAMINHO

No tabuleiro deste xadrez geopolítico, as possibilidades de sucesso nas negociações são tênues, mas possíveis. Até agora, o governo Trump tem movido só os peões para pressionar o Brasil. Mas depois da ONU, o jogo agora é das Rainhas e Reis. Cavalos, bispos e torres fazem apenas movimentos estratégicos. Nestas peças leia-se o Itamaraty e o Departamento de Estado dos EUA.

No Xadrez o Gambito da Rainha é um movimento que sacrifica uma peça para garantir a vitória no jogo pela Rainha. Qualquer avanço dependerá da capacidade brasileira em separar comercial do político, mas possível, já que Trump declarou que negocia com quem ele gosta e a suposta “química” com Lula indica isso.

No entanto, a negociação entre Lula e Trump é um jogo de alta complexidade, onde o Brasil busca converter uma crise imposta em oportunidades concretas, defendendo intransigentemente sua soberania.

Trump utiliza o "tarifaço" e as sanções ao ministro Alexandre de Moraes como um gambito – um sacrifício inicial para forçar o Brasil a ceder em suas instituições, especialmente as investigações do 8 de janeiro.

A defesa e contra ataque de Lula se baseia na defesa Incondicional da soberania, isolando o tema judicial, tratando-o como uma linha vermelha intocável.

As negociações devem focar numa agenda de oportunidades estratégicas. Lula redireciona o diálogo para interesses nacionais vitais, focando em revogação das tarifas do aço, alumínio e etanol.

Na aviação, retomar a parceria estratégica entre Embraer e Boeing e na tecnologia, atrair investimentos de Big Techs em data centers e pesquisa radicados no Brasil, sem abrir mão da sua regulamentação imprescindível para os interesses brasileiros, tanto econômicos como políticos. E finalmente, a trunfo magnífico das Terras Raras, oferecendo este ativo estratégico – crucial para a tecnologia de ponta e a defesa dos EUA – não como commodity bruta, mas como base para uma parceria que inclua refino e industrialização no Brasil, com transferência de tecnologia.

O resultado tático será, caso a postura firme de Lula se mantenha e somada ao trunfo das terras raras, esvazie politicamente o bolsonarismo e coloca o Brasil em posição de barganha única. O sucesso será medido pela capacidade de obter avanços setoriais sem negociar um milímetro da soberania nacional, transformando uma investida hostil em alavanca para o desenvolvimento.

OS DESDOBRAMENTOS, PORÉM, JÁ MOLDAM O CENÁRIO PARA 2026

A postura intransigente na defesa de Moraes e do STF fortalece Lula perante o eleitorado que vê na democracia valor inegociável. Mostra que sua liderança é dique contra o avanço do autoritarismo global. Para a oposição bolsonarista, é o fim do mundo: seu principal aliado externo negocia com o governo que juram destruir.

A lição é clara: a soberania brasileira esteve e ainda está sob ataque, mas cada tentativa de quebrá-la - seja pelo terrorismo de 8 de janeiro ou pelas sanções de Washington - só tem servido para fortalecer as instituições e unir o país em torno da defesa incondicional de sua democracia. O Brasil não negociará seus juízes, suas leis ou sua verdade em troca de tarifas. Essa é a linha que não será cruzada - e que define o futuro não apenas do governo Lula, mas da própria continuidade democrática brasileira.

E o maior gambito sacrificado será Jair Bolsonaro e o bolsonarismo, em favor da jogada maior da Rainha, que é a Democracia Brasileira.

Eli Mariotti



O Partido dos Trabalhadores (PT) da Paraíba, sob a nova gestão liderada pela Deputada Estadual Cida Ramos, enfrenta um cenário político desafiador e decisivo em 2026. Com a missão de reposicionar a legenda no estado, o partido precisa equilibrar alianças estratégicas, garantir protagonismo nas decisões políticas e fortalecer sua identidade programática. Este artigo analisa com humildade as dinâmicas internas e externas em todos os cenários possíveis que moldarão o futuro do PT na Paraíba.

O NOVO CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL E SEUS REFLEXOS NA PARAÍBA

Em 2022, o PT conquistou a presidência da República com Luiz Inácio Lula da Silva, estabelecendo uma ampla coalizão que incluiu partidos de centro e centro-direita. Uma aliança que tem sido ao longo de quase três anos da gestão Lula, impregnada de atropelos e desavenças em votações dos projetos governamentais tanto na Câmara quanto no Senado Federal.

No entanto, o Centrão ao aliar-se ao bolsonarismo na Câmara Federal, tentou aprovar a chamada "PEC da Bandidagem", que visava blindar parlamentares contra investigações criminais, que além de criar dois códigos penais, uma para o cidadão comum e outro para a elite política, foi implodida por dentro e por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Essa derrota, que com certeza teve como maior motor a mobilização popular nas ruas, pela opinião pública de esquerda ou não, enfraqueceu o Centrão e mais ainda o bolsonarismo. Este importante fato político somado as defecções da base aliada de Lula, abriu espaço para uma candidatura presidencial com bases mais progressistas em 2026.

Na Paraíba, é preciso que se diga, se faz necessário que a nova direção do PT busque aproveitar esse momento para fortalecer a presença política do partido, distanciando-se das alianças fisiológicas de gestões passadas e alcance um protagonismo mais alinhado com sua base social e seus princípios programáticos.

CIDA RAMOS, A PRIMEIRA MULHER ELEITA PRESIDENTA ESTADUAL DO PT-PB E A RESPONSABILIDADE QUE ISSO REPRESENTA

Eleita presidenta do PT da Paraíba, Cida Ramos se tornou a primeira mulher a comandar a legenda no estado. Sua gestão que inicia, é vista como uma oportunidade sólida para reposicionar o partido, unificar suas alas internas e estabelecer uma estratégia eleitoral sólida para 2026. Em declarações recentes, Cida enfatizou a importância do PT ter voz ativa nas articulações políticas, garantindo que qualquer aliança respeite a identidade e os princípios do partido. É preciso que isso se reflita rm ações e e estratégias do partido à partir de agora.

A unificação do partido no estado não representa abrir mão de sua diversidade de opiniões e visões, representadas tradicionalmente pelas diversas correntes internas. Mas com certeza passa pelo pleno diálogo interno, sentando a mesa com todas as tendências, ouvindo as demandas de todos o setores do partido e encontrar, aí sim, o caminho da Unidade Partidária, de modo que todos estejam na mesma sintonia, mesmo que com todas as suas diferenças.

Sem me arrogar a ser um professor de gestão partidária aqui, e tenho muito a aprender sobre isso, ouso dizer do alto da minha ignorância, que o melhor caminho é registrar as diferenças internas, oferecendo a todas as correntes, a equidade no atendimento de suas demandas, objetivando sempre o fortalecimento do Partido na Paraíba.

Não é fácil. Mas é possível, assim como foi possível o partido ter uma presidenta mulher em um estado nordestino. A responsabilidade é grande.

PROTAGONISMO. ALIANÇAS ESTRATÉGICAS E CONDIÇÕES PARA APOIO EM 2026

É necessário e amplamente reivindicado por sua militância e filiados que o PT da Paraíba adote uma postura muito mais criteriosa que as gestões anteriores com relação às alianças para 2026. A legenda tem que buscar ou esperar parcerias que compartilhem de seu compromisso com a democracia, justiça social e desenvolvimento sustentável.

No entanto, qualquer apoio a uma chapa majoritária não pode ser automático, como tem sido tratado pelo Governador João Azevedo e até mesmo lideranças municipais, como o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena. Não é possível, muito menos aceitável que essa postura se mantenha e nem que negociações se façam as escuras e sem transparência, como tem acontecido no PT-PB nos últimos anos, que resultou em privilégios pessoais para alguns quadros do partido, ou pior ainda, que o partido seja instrumentalizado para projetos políticos pessoais, abrindo caminho para a descrédito no PT da Paraíba.

Essas práticas se não coadunam com os princípios históricos do partido, que é conhecido pela tão bem aplicada Democracia Petista. Com suas falhas é claro, mas sempre se aperfeiçoando.

É fundamental que o PT negocie sua participação na política paraibana de forma equitativa, buscando garantir pelo menos uma vaga na chapa majoritária, seja como vice-governador ou como um dos senadores, nem que seja a segunda vaga. Existe sim, essa possibilidade real.

Além disso, é essencial que o programa de governo das alianças inclua questões programáticas do PT e que essas áreas sejam conduzidas por quadros capacitados do partido, em qualquer setor da administração, seja no primeiro, segundo ou terceiro escalão. E o partido tem que ter lugar em todas estas três camadas. O objetivo é garantir que o PT não apenas ocupe espaços de poder, mas também tenha influência real na implementação de políticas públicas.

O CASO ADRIANO GALDINO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Adriano Galdino, atual presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba e filiado ao Republicanos, manifestou interesse em disputar o governo do estado em 2026. Ele também indicou que consideraria mudar de partido caso fosse convidado pelo presidente Lula para concorrer pelo PT.

Esse cenário apresenta ao mesmo tempo, contradições, desafios e oportunidades para o PT da Paraíba. Por um lado, as declarações recentes de Galdino, claramente pejorativas a atual Presidenta do partido consequentemente geraram resistências internas, mas por outro lado, a reação do PT exige cautela nas negociações das alianças, podendo até mesmo aventar, mesmo que a uma certa distância de ser possível, a adesão de Galdino ao partido, fato que poderia fortalecer a legenda em termos de representatividade e apoio político. Não se pode virar as costas a uma liderança política de peso, sem falar que a preço de hoje, Cícero é uma possibilidade de alianças, assim como Lucas Ribeiro, que no caso já foi citado como primeira opção por parte da liderança do partido. Haja visto as presenças e os discursos na posse da atual gestão.

O que é fundamental não esquecer, é o fato de que cada diretório estadual tem seu lugar de fala e autonomia, garantida pelo Estatuto, mesmo que a instância superior tenha prioridade e queira ir por caminhos diferentes, isso não invalida posicionamentos locais e o correto é a mesa de negociações, sem deixar de escutar a voz da militância das ruas e seus filiados.

É preciso que a nova direção do PT Paraíba esteja aberta ao diálogo com todos na política, excluindo a extrema direita, é claro, independente de declarações impensadas ou feitas no arroubo de um sentimento de indignação momentânea. Afinal a reeleição de Lula é o foco central do PT de todo o país, portanto, apoios não podem ser relegados a rejeição, pura e simplesmente.

Cida Ramos, em entrevista recente ao ReporterPB, afirmou: "É da política e devemos estar sempre abertos ao diálogo, mesmo que em algum momento se mostre impossível atender à demanda específica”.

UM CENÁRIO GERAL DE POSSIBILIDADES DE ALIANÇAS DO PT NA PARAÍBA EM 2026

Na possibilidade de apoio a uma chapa definida pelo governador João Azevêdo (PSB) ou seu grupo político, nota-se que o PSB é aliado histórico do PT, embora com tensões em alguns momentos. E há grande possibilidade do PT negociar a vice-governadoria ou uma vaga ao Senado, mesmo que seja a segunda vaga.

Mas não se pode mais negociar com João na forma como tem sido feito nas últimas eleições. Sempre existiu a impressão de que estes interlocutores já contavam o apoio automático do PT. Isso acarretou enormes prejuízos ao partido .Em qualquer negociação é preciso incluir pautas do PT no programa de governo, assim como a gestão de secretarias estratégicas (ex.: Desenvolvimento Humano, Cultura, Educação, Agricultura Familiar).

E um possível diálogo com Adriano Galdino (atualmente Republicanos, presidente da ALPB) que já manifestou interesse em disputar o governo e até cogitou migrar para o PT, mesmo que não seja provável uma candidatura nesse contexto do atual cenário político paraibano, o fato é que não deixa de ser uma oportunidade para o partido ensejar seu caminho para o protagonismo político no estado.

Com Galdino, existe a possibilidade de candidatura própria do PT ou composição em que o partido garanta espaço relevante (vice ou Senado). Apesar das resistências internas no PT, é preciso ter abertura ao diálogo, com garantias programáticas e respeito à identidade petista.

POSSÍVEL REAPROXIMAÇÃO COM VENEZIANO VITAL DO RÊGO (MDB)

Veneziano foi vice-presidente do Senado, teve o apoio do PT em sua candidatura a Governador na Paraíba em 2022, tem proximidade com Lula e o PT Nacional, sempre apoiando as pautas do Governo Federal no Senado. Há a possibilidade de composição majoritária, especialmente se o MDB decidir apostar em candidatura própria ou em aliança estratégica, desde que exista uma definição clara de compromissos progressistas e espaço para quadros do PT na gestão.

UMA ALIANÇA TRADICIONAL COM A FEDERAÇÃO DO PT, PCDOB E REDE, INCLUINDO O PSOL

Além das questões de viabilidade eleitoral e força política nas alianças, essa é uma união, que em tese, não há basicamente conflitos. São 3 partidos de uma mesma federação e o outro com afinidade programática, facilitando a convergência de propostas sociais, ambientais e de participação popular. Há a possibilidade de uma frente progressista estadual com candidatura própria ou apoio conjunto a uma chapa ampla. Nesse cenário é fundamental que o PT assuma protagonismo, que responda ao tamanho de sua estatura e que não se dilua em acordos pragmáticos.

NEGOCIAÇÕES COM SETORES INDEPENDENTES E NOVOS ATORES POLÍTICOS

Prefeitos e lideranças emergentes podem e devem compor alianças em 2026, ampliando a possibilidade de ampliar a base municipalista do PT em 2028, garantindo maior apoio no interior. E sempre garantindo o alinhamento com pautas de desenvolvimento regional e inclusão social. É inegável que a realidade política do interior paraibano de maioria conservadora e oligarca, é muito mais complexa com seus grupos políticos locais e na disputa por espaço. Mas são desafios que é preciso superar, principalmente fortalecendo os diretórios e comissões do interior.

CONCLUSÃO

Vendo a importância do protagonismo que tem que ser reconquistado pelo PT, a conclusão é óbvia. O partido não pode se restringir a ser um partido coadjuvante. Mesmo que não apresente candidato próprio ao governo estadual, deve garantir sua participação efetiva na chapa majoritária (vice ou Senado), além de obter secretarias estratégicas sob comando de quadros do partido, garantindo a inserção programática das propostas do PT conduzidas por quadros técnicos e lideranças políticas da legenda.

É fundamental voltar às Bases e conquistar as ruas da Paraíba, porque mais do que articulações de cúpula, o PT precisa se reconectar com sua força original: o povo e seus trabalhadores, para isso instrumentalizando sindicatos e movimentos sociais, coletivos da juventude, fortalecendo o diálogo e mobilizando a militância para além das redes sociais.

A classe artística e cultural tem fundamental importância neste processo, mas vai além, garantindo protagonismo da cultura como ferramenta de resistência e mobilização. A história mostra que grandes mobilizações democráticas no Brasil tiveram forte participação dos artistas, músicos, atores e intelectuais, e agora, o pontapé inicial para esse resgate veio nas manifestações em todo o país, realizadas no domingo, dia 21 de setembro.

A nova direção do PT paraibano tem a missão de fazer o chamamento da juventude e das periferias, investindo em pautas que dialoguem diretamente com as demandas sociais – emprego, educação, habitação, transporte e segurança cidadã, mas principalmente com suas expressões culturais atuais. Esse é um lugar de fala que merece toda e imprescindível atenção nas políticas públicas do partido.

O partido precisa crescer e vencer na Paraíba, e para isso, precisa ser mais que aliado de gabinetes, deve voltar a ser o partido do chão das fábricas, das ruas, das praças, dos palcos e dos artistas. Só assim reconquistará a esperança popular e consolidará seu protagonismo no estado como um todo.

O PT da Paraíba, sob a direção de Cida Ramos, está diante de uma oportunidade histórica; que é reposicionar-se como uma força política relevante e autêntica no estado. Para isso, é crucial que o partido mantenha sua identidade programática, recuse alianças que comprometam seus princípios, e quando negociar seja estratégico, garantindo participação efetiva nas decisões políticas. Que não busque protagonismo apenas em cargos, mas também na implementação de políticas públicas que atendam às necessidades da população.

Ao adotar essa abordagem, o PT da Paraíba poderá fortalecer sua base, ampliar sua representatividade e contribuir significativamente para o desenvolvimento do estado, alinhando-se aos valores progressistas que sempre nortearam sua trajetória.

Este humilde jornalista deseja muita luz e sabedoria a nova gestão da Deputada Cida Ramos, para que o partido possa superar vencer os grandes desafios do atual cenário político paraibano.

Eli Mariotti




A campanha eleitoral, especialmente no contexto de disputas majoritárias como as eleições municipais, tem se tornado um campo fértil para o uso de estratégias manipulativas e ofensivas, principalmente por parte de candidatos que adotam uma retórica extremista, típica da extrema direita. Um exemplo claro desse comportamento é visto nas atitudes do candidato Ricardo Marçal, que disputa a prefeitura de São Paulo. Suas ações e discursos ilustram táticas que não apenas desarmam seus adversários, mas também utilizam uma retórica ambígua para atacar por flancos previamente preparados com palavras amigáveis. Vou detalhar essa estratégia e explorar algumas das situações em que ela foi usada.

A Tática da Ambiguidade: Desarmar para Atacar

Uma das características centrais da estratégia de Marçal é a utilização de declarações aparentemente conciliatórias para, logo em seguida, desferir ataques diretos e calculados. Este método envolve a criação de uma falsa sensação de desarmamento, em que o adversário acredita que um tema ou questão foi resolvido de forma pacífica, apenas para ser surpreendido por um ataque subsequente.

Esse comportamento foi exemplificado depois de um pedido de perdão a José Luiz Datena anterior ao debate na TV Cultura. Marçal pediu perdão ao apresentador por atitudes anteriores, em um gesto que poderia ser interpretado como genuíno e conciliatório. No entanto, poucos dias depois, durante o debate citado, ele voltou a atacá-lo. A tática aqui é clara: ao desarmar temporariamente o adversário com um pedido de perdão, Marçal busca pega-lo desprevenido, expondo suas fragilidades quando menos se espera.

Outro exemplo revelador foi seu comportamento em relação ao atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Antes do debate desta terça, no UOL/Rede TV, Marçal mandou um bilhete a Nunes, afirmando que não desejava envolver a família nos ataques da campanha, declarando sua intenção de focar nos aspectos políticos. No entanto, logo depois, ele atacou diretamente a família do prefeito, na pessoa de sua esposa. Novamente, temos a estratégia de desarmar previamente o flanco que será atacado. Ao afirmar que respeitaria um limite ético (não atacar a família), Marçal abre o caminho para que, quando o ataque ocorra, ele já tenha minado a resistência do adversário e desviado a atenção da crítica.

A estratégia de ser contra o crime mesmo acusado de fazer parte dele

Marçal também se coloca como um opositor ferrenho do crime organizado, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Contudo, surgiram relatos e processos criminais que sugerem um possível envolvimento de sua campanha com o crime, seja diretamente ou por meio de alianças obscuras. Esta contradição reflete outra faceta da estratégia: projetar uma imagem de opositor para esconder possíveis vínculos ou ações que vão na direção oposta ao discurso. Neste caso, a retórica de Marçal se constrói como um defensor da moralidade e da ordem, mas seus vínculos parecem contradizer diretamente essa imagem, novamente minando a confiança do público e adversários.

Em debates e declarações, Marçal também aplicou essa mesma técnica contra Tábata Amaral. Embora tenha inicialmente adotado um discurso de respeito à jovem parlamentar, posicionando-se como alguém que dialoga com novas ideias, rapidamente ele mudou o tom, utilizando questões pessoais e políticas contra ela. Esta alternância entre discurso amigável e ataques calculados faz parte de uma estratégia para confundir os adversários e criar um ambiente no qual eles não estão preparados para se defender adequadamente.

Como classificar as estratégias da “nova” extrema direita:

Essa estratégia, frequentemente utilizada ultimamente por políticos de extrema direita, pode ser classificada como uma forma de "desarmamento retórico seguido de ataque". Ela se baseia em quatro pilares:

  1. Desarmamento temporário: Criar um ambiente de aparente paz e conciliação, geralmente por meio de desculpas públicas, declarações de respeito ou negações de intenção de ataque.
  1. Ataque por flancos desguarnecidos: Utilizar os momentos seguintes ao desarmamento para atacar justamente o ponto que foi previamente protegido com palavras conciliatórias.
  1. Contradição intencional: Lançar mão de discursos contraditórios, como dizer-se contra o crime organizado enquanto mantém vínculos suspeitos, para confundir o público e dividir a narrativa.
  1. Manipulação da imagem pública: Criar uma imagem de defensor da moralidade e da ordem, enquanto usa táticas inescrupulosas para lacrar nas Redes Sociais, cujo maior objetivo é enfraquecer os adversários.
Políticos experientes que são pegos pela rede da mediocridade

Essa estratégia, que tem sido frequentemente usada por figuras da extrema direita, pode ser vista como habilidosa em um nível estratégico, mas não necessariamente brilhante. Ela é eficaz, especialmente quando os adversários não estão preparados para responder a mudanças rápidas de postura. No entanto, essa estratégia não é inovadora nem complexa – é uma técnica básica de desorientação, onde o foco está em criar uma falsa sensação de segurança para depois atacar em um momento de vulnerabilidade.

Em debates e campanhas eleitorais, os candidatos muitas vezes se preparam para confrontos diretos e esperam que os ataques sejam feitos de forma previsível. Marçal tira vantagem disso ao alternar entre o discurso de conciliação e o ataque, criando um ciclo de confusão que pega os oponentes desprevenidos. Essa técnica funciona principalmente quando os adversários são excessivamente focados em suas próprias defesas e não estão atentos às mudanças de comportamento do oponente.

Por outro lado, o fato de ser uma estratégia básica pode também expor suas limitações. Se os adversários antecipam esse padrão de comportamento, a tática se torna previsível e perde força. É uma abordagem que depende muito da surpresa e da capacidade de desarmar psicologicamente o oponente, mas não necessariamente de um conteúdo ou habilidade mais substancial.

Em resumo, não é uma tática brilhante, mas sim eficaz na exploração de falhas na preparação dos adversários. Adversários mais experientes e atentos podem desarmá-la facilmente, transformando o ataque em uma oportunidade de expor a inconsistência e a desonestidade do candidato.

A utilização de tais táticas, como as exemplificadas por Marçal, tem consequências profundas para a política. Elas criam um ambiente de desconfiança, polarização e desgaste das relações entre candidatos, partidos e eleitores. Além disso, o uso de tais métodos pode resultar em um enfraquecimento do debate público, uma vez que o foco se desvia de políticas públicas e propostas concretas, deslocando-se para o campo das trocas de acusações e manipulações.

O comportamento de Ricardo Marçal em sua campanha é um reflexo de uma tática política que visa desorientar e enfraquecer os adversários por meio de um discurso contraditório e manipulação. Para enfrentá-la, é essencial que os candidatos e o público estejam conscientes dessas técnicas e preparados para expor suas inconsistências e perigos ao debate democrático.

"Quando estamos perto, devemos fazer o inimigo acreditar que estamos longe; quando longe, fazê-lo acreditar que estamos perto."

Sun Tzu - A arte da guerra



A relação entre os partidos políticos e seus representantes regionais é um tema que frequentemente gera debates sobre alinhamento ideológico e fidelidade às diretrizes nacionais. 

No caso do Partido dos Trabalhadores (PT) na Paraíba, particularmente em João Pessoa, essa questão se torna ainda mais relevante ao analisarmos o apoio de membros do diretório estadual e municipal ao prefeito Cícero Lucena, que contraria os princípios e o programa de governo defendido pelo PT em nível nacional. 

Tal postura gera indignação entre os filiados, pois evidencia uma tendência ao fisiologismo e ao distanciamento dos compromissos éticos firmados pelo partido com a população.

O fisiologismo, caracterizado pelo apoio político com base em trocas de favores e interesses pessoais em detrimento do bem comum, compromete a credibilidade de qualquer partido que se proponha a atuar de forma transparente e responsável. 

No caso em questão, os membros que insistem no apoio ao prefeito Cícero Lucena estão, na visão dos críticos, traindo as diretrizes nacionais do PT, que visam à construção de uma política voltada para o interesse popular, com foco no desenvolvimento social e econômico das comunidades mais vulneráveis.

A intervenção da direção nacional do partido, no sentido de forçar uma candidatura própria, a pedido do partido inicialmente, surge como uma tentativa de resgatar a coerência e a unidade interna. 

O PT, historicamente vinculado às pautas de justiça social, direitos humanos e políticas públicas inclusivas, encontra-se, assim, em uma encruzilhada e divergência entre a maioria dos militantes e filiados que querem manter sua identidade ou e o grupo minoritário que está na gestão do partido que cedem aos apelos do pragmatismo fisiológico que se traduz em alianças questionáveis e por isso trabalham em detrimento da campanha eleitoral do candidato 13, Luciano Cartaxo a prefeitura de João Pessoa.

Ademais, ao apoiar uma administração que adota práticas administrativas consideradas contrárias aos princípios defendidos pelo PT, os membros do diretório estadual e municipal perderam a confiança da base militante e dos eleitores que acreditam nos ideais progressistas do partido. A postura deles também revela um distanciamento entre as lideranças nacionais e os anseios da população de João Pessoa, que sofre as consequências de uma gestão pública que não prioriza os interesses coletivos e o real desenvolvimento da Capital da Paraíba.

Em conclusão, o apoio ao prefeito Cícero Lucena por parte de membros do PT na Paraíba representa um desvio ético grave que compromete a coesão partidária e a defesa de princípios essenciais para o partido. Em tempos de crise política e social, é fundamental que os partidos mantenham uma postura de integridade e respeito às suas diretrizes, visando sempre o bem-estar da população e a construção de uma sociedade mais justa.

O agravante desta postura anti ética e fisiologista de gestores do PT da Paraíba e de João Pessoa, se dá ainda mais pelo fato de que o presidente Lula apoia o candidato pelo PT, Luciano Cartaxo, o que configura um sério motim contra o próprio presidente Lula, liderança incontestável do partido e as lideranças nacionais do PT - Partido dos Trabalhadores.


O cinema brasileiro mais uma vez deixou sua marca no cenário internacional, desta vez no prestigiado Festival de Veneza. O filme Ainda Estou Aqui, dirigido pelo aclamado Walter Salles, recebeu uma ovação do público em pé por dez minutos em um dos momentos mais memoráveis do festival. Protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, o longa foi celebrado por sua profundidade emocional e por sua capacidade de capturar a essência das relações humanas de forma tocante e realista.

Ainda Estou Aqui

O filme, que explora as complexidades dos vínculos familiares e as dores do luto, narra a história de uma mãe (interpretada por Fernanda Torres) que lida com a perda de seu filho, ao mesmo tempo em que tenta reencontrar sua própria identidade e propósito de vida. A narrativa é construída em torno de memórias, sonhos e a difícil aceitação da realidade, temas que Salles aborda com sua habitual sensibilidade e maestria visual.

Walter Salles, conhecido por trabalhos como Central do Brasil e Diários de Motocicleta, mais uma vez se destaca por sua habilidade em contar histórias que são ao mesmo tempo intimistas e universais. Em Ainda Estou Aqui, ele nos conduz por uma jornada emocional profunda, utilizando uma paleta de cores suaves e uma trilha sonora minimalista para intensificar a introspecção dos personagens.

Veneza

O Festival de Veneza, um dos mais antigos e prestigiados do mundo, foi o palco dessa celebração do cinema brasileiro. Após a exibição de Ainda Estou Aqui, o público presente aplaudiu de pé por dez minutos, um reconhecimento raro e reservado apenas para obras que realmente tocam os espectadores em um nível profundo.

Fernanda Torres e Selton Mello, visivelmente emocionados, não conseguiram conter as lágrimas durante o prolongado aplauso. Para ambos, a reação calorosa do público foi a confirmação do impacto que o filme causou, não apenas como uma obra de arte, mas como um espelho das emoções humanas. Em entrevistas após a sessão, Fernanda Torres destacou a importância do filme em sua carreira, descrevendo-o como "um dos papéis mais desafiadores e gratificantes" que já interpretou.

Selton Mello, que além de atuar também é diretor e roteirista, ressaltou o talento de Walter Salles em extrair performances autênticas dos atores, algo que foi fundamental para que o filme alcançasse a ressonância emocional demonstrada pelo público em Veneza.

A crítica internacional foi unânime em elogiar a sensibilidade de Salles e a atuação dos protagonistas. Ainda Estou Aqui foi descrito como uma obra que transcende fronteiras, conectando-se com qualquer pessoa que já experimentou a dor da perda e a busca por redenção. A revista Variety destacou a "direção impecável" de Salles e a "performance brilhante" de Fernanda Torres, enquanto a The Hollywood Reporter afirmou que o filme "consolida Walter Salles como um dos maiores cineastas da atualidade".

O sucesso de Ainda Estou Aqui no Festival de Veneza não só reforça a posição de Walter Salles no cenário internacional, como também destaca a força e a vitalidade do cinema brasileiro contemporâneo. Em um momento em que a indústria enfrenta desafios significativos, a ovação recebida por Salles, Torres e Mello é um lembrete poderoso do impacto cultural e artístico que o cinema pode ter.

O filme já está sendo cotado como um forte concorrente para prêmios em outros festivais e, possivelmente, uma indicação ao Oscar. O filme deve estrear no Brasil nas próximas semanas, onde é esperado com grande antecipação.

Assista o vídeo do momento no Festival:


Kiko Mascarenhas (@kikomascarenhas)


O futebol brasileiro, um dos maiores símbolos culturais do país, é conhecido mundialmente por sua paixão e talento. No entanto, em várias ocasiões, a integridade do esporte foi comprometida por escândalos de corrupção que mancharam a sua história. Três dos maiores escândalos foram a Máfia das Loterias (1982), a Máfia do Apito (2005) e, mais recentemente, a chamada Máfia das Bets, que explodiu em 2023. Cada um desses eventos envolveu manipulação de resultados e interesses financeiros ilícitos, impactando a credibilidade do futebol brasileiro.

Um vídeo curto do jornalista Chico Pinheiro para o ICL (Instituto Conhecimento Liberta) de 1 minuto e 20, chama a atenção pela ênfase dada a Máfia das Bets. Depois de uma minuciosa pesquisa, escrevo esta matéria com detalhes que alertam para um problema, que como diz Chico, ninguém está dando a devida importância na imprensa esportiva nacional.

Máfia das Loterias (1982)

Em 1982, o Brasil foi sacudido por um escândalo que envolveu a manipulação de resultados de jogos de futebol para fraudar o resultado da Loteria Esportiva. A Loteria Esportiva, na época, era extremamente popular, e os jogos de futebol eram fundamentais para o funcionamento do sistema de apostas.

A fraude foi descoberta após a revelação de que um grupo de pessoas, incluindo jogadores, dirigentes e apostadores, estava combinado para manipular os resultados das partidas. O objetivo era garantir que certos resultados ocorressem, permitindo que os fraudadores ganhassem prêmios na Loteria Esportiva. O escândalo levou a uma série de investigações, com prisões e suspensões de envolvidos, mas os danos à credibilidade do futebol brasileiro já estavam feitos. A confiança do público na integridade do esporte foi severamente abalada.

A Máfia do Apito (2005)

Em 2005, o futebol brasileiro enfrentou outro grande escândalo, conhecido como a Máfia do Apito. O esquema foi revelado pelo jornalista André Rizek e envolvia a manipulação de resultados de jogos do Campeonato Brasileiro por um grupo de árbitros liderados pelo então árbitro Edílson Pereira de Carvalho. O esquema consistia em manipular os resultados para beneficiar apostadores em sites de apostas.

Edílson Pereira de Carvalho recebia subornos para garantir que certas equipes vencessem ou perdessem de acordo com as apostas feitas. Quando o esquema foi descoberto, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu anular 11 partidas do Campeonato Brasileiro de 2005, todas arbitradas por Edílson. As partidas foram remarcadas, mas o escândalo deixou uma mancha indelével na reputação do futebol nacional.

Máfia das Bets (2023)

O mais recente escândalo que abalou o futebol brasileiro é a chamada Máfia das Bets, um esquema de manipulação de resultados que veio à tona em 2023. O termo "Bets" refere-se às apostas esportivas, que nos últimos anos passaram por uma explosão de popularidade, em parte devido à legalização e regulamentação do setor no Brasil. Com o aumento das apostas, também surgiram oportunidades para esquemas ilícitos que visam manipular resultados de jogos de futebol, muitas vezes envolvendo jogadores, árbitros e dirigentes.

O Esquema, investigação e impactos

A Máfia das Bets funciona de maneira semelhante à Máfia do Apito, mas com a diferença de que agora as apostas são feitas em plataformas online, muitas delas operando fora do Brasil. O esquema envolve subornos a jogadores e árbitros para que manipulem o resultado de jogos específicos, garantindo que certas apostas sejam vitoriosas. Essas apostas podem variar desde o placar final até eventos específicos dentro do jogo, como número de cartões ou escanteios.

Em 2023, a Polícia Federal e o Ministério Público iniciaram uma grande investigação, batizada de "Operação Penalidade Máxima", para desmantelar a Máfia das Bets. A investigação revelou que jogadores de diversas divisões do futebol brasileiro estavam envolvidos no esquema, recebendo quantias consideráveis para manipular resultados. Alguns jogadores foram presos, enquanto outros foram suspensos e estão sendo processados.

O escândalo atingiu um nível preocupante devido à abrangência do esquema, que não se limitava a uma liga ou região específica, mas envolvia jogos em várias divisões e estados. Além disso, a facilidade de acesso às plataformas de apostas online tornou o esquema ainda mais difícil de detectar e combater, aumentando o risco de manipulação de resultados em um cenário globalizado.

A repercussão do escândalo foi intensa, com torcedores, jogadores e autoridades expressando indignação. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e outras entidades do esporte estão trabalhando em conjunto com as autoridades para combater o problema, implementando novas medidas de monitoramento e regulamentação das apostas esportivas. No entanto, o impacto sobre a credibilidade do futebol brasileiro já é significativo, e o desafio agora é restaurar a confiança do público e assegurar a integridade do esporte.

Quem pode estar envolvido

Vários jogadores foram identificados e estão sendo investigados por supostamente aceitarem subornos para manipular resultados ou eventos específicos dentro dos jogos. Entre os jogadores citados, há tanto atletas de times da Série A quanto de divisões inferiores, o que mostra a extensão do problema em diferentes níveis do futebol brasileiro.

Alguns técnicos também foram mencionados nas investigações, suspeitos de conivência com o esquema, seja por permitir que jogadores participassem da manipulação ou até mesmo por orientá-los a influenciar o resultado de uma partida.

Há indícios de que alguns dirigentes de clubes estariam envolvidos, facilitando o acesso dos apostadores aos jogadores ou recebendo uma parte dos lucros provenientes das apostas fraudulentas. A investigação está focada em entender se houve um esquema organizado dentro de certos clubes, onde dirigentes poderiam ter controlado ou incentivado a manipulação.

Empresários e agentes de jogadores também estão sob investigação, especialmente aqueles que possuem grande influência na carreira dos atletas. Eles podem ter usado essa influência para coagir ou convencer jogadores a participar do esquema.

Alguns empresários, que atuam como intermediários entre jogadores e plataformas de apostas, estão sendo investigados. Esses indivíduos podem ter sido responsáveis por orquestrar a manipulação de resultados, garantindo que as apostas fossem bem-sucedidas em troca de grandes lucros.

Há também menções a empresários com grande participação no futebol nacional, que podem ter usado suas conexões para facilitar o esquema. Esses empresários podem ter influenciado diretamente dirigentes e jogadores.

Até agora, não há nomes específicos de políticos de alto escalão envolvidos diretamente na Máfia das Bets, mas investigações apontam para uma possível influência indireta. Isso inclui a omissão de certas figuras políticas em relação à regulamentação das apostas esportivas, ou até mesmo o favorecimento de certos grupos empresariais que poderiam ter facilitado a operação do esquema.

A possibilidade de lobby político para proteger os interesses de plataformas de apostas ou grupos envolvidos no futebol também está sendo investigada. Esse tipo de envolvimento pode ser mais sutil, mas igualmente prejudicial, pois cria um ambiente onde a manipulação de resultados pode prosperar sem consequências severas.

Conclusão

Os escândalos de corrupção no futebol brasileiro, desde a Máfia das Loterias em 1982 até a recente Máfia das Bets em 2023, refletem a vulnerabilidade do esporte diante de interesses financeiros ilícitos. A cada nova revelação, a confiança do público é abalada, e o desafio de preservar a integridade do futebol se torna mais complexo.

As apostas esportivas, especialmente em um ambiente digital, apresentam novos desafios que exigem uma abordagem robusta e inovadora para proteger o esporte que é um símbolo nacional. O futuro do futebol brasileiro depende da capacidade de aprender com esses escândalos e implementar medidas eficazes para evitar que eles se repitam.

Assista o vídeo do Chico Pinheiro no YouTube


A maior treta de cibersegurança nos EUA em agosto foi o vazamento de 2,7 bilhões de números de segurança social (algo parecido com o nosso CPF). Quem assumiu a bronca foi o grupo USDoD, que já invadiu várias empresas pelo mundo. Agora, uma investigação descobriu quem pode ser o cabeça do grupo: um cara chamado Luan, que é brasileiro.

Um relatório da CrowdStrike, recebido pelo TecMundo, revelou que o tal líder do USDoD seria um homem de 33 anos chamado Luan B.G., que mora em Minas Gerais, Brasil.

Todas as informações sobre ele já foram passadas para as autoridades. Conseguiram identificar até registro fiscal, emails, domínios, endereços IP, contas de redes sociais, telefone e cidade. Não revelaram detalhes específicos ao TecMundo para não expor o Luan totalmente.

“Revelar a identidade de alguém num relatório de inteligência tem seus riscos. Apesar do cara estar envolvido em atividades maliciosas na internet, a vida pessoal dele — como família, fotos e outras coisas — precisa ser protegida, a não ser que tenha algo a ver com a investigação”, disse a CrowdStrike.

O grupo USDoD apareceu nos últimos meses, alegando ataques a várias empresas e organizações. Eles participam de um fórum de cibercriminosos chamado Breach Forums e ficaram conhecidos por vazar dados de empresas como Airbus, Agência de Proteção Ambiental dos EUA, e até o FBI.

O ataque mais recente, que deu o que falar, foi contra a Jericho Inc (National Data Public), dos EUA. Eles roubaram 2,9 bilhões de registros, o equivalente a 277 GB de dados, e colocaram à venda por US$ 3,5 milhões (mais ou menos R$ 19,7 milhões). Esses dados incluíam nomes completos, históricos de endereços dos últimos 30 anos e detalhes de parentes das vítimas.

O grupo também sugeriu que teria invadido a CrowdStrike e vazado dados confidenciais, mas a empresa diz que eram informações que já estavam disponíveis para o público e clientes.

RAMSOWARE

Há boatos de que os ataques do USDoD usaram um tipo de vírus chamado ransomware, e que eles teriam pegado emprestado o malware de outro grupo famoso, o RansomMed.

A investigação da CrowdStrike apontou que Luan B.G. tem um passado como hacktivista, começando lá em 2017, e que em 2022 ele teria começado a se envolver com crimes cibernéticos mais pesados.

Hacktivismo não é sempre crime. Às vezes, é só alguém que usa a internet para defender causas políticas. Mas, no caso do Luan, o que ligou ele aos crimes foi o uso das mesmas descrições de perfil em redes sociais.

“A CrowdStrike está de olho no USDoD desde o final de 2022, quando o grupo afirmou pela primeira vez que acessou dados de uma parceria público-privada dos EUA. Desde então, já relatamos a atividade do USDoD mais de 12 vezes”, disse a empresa.

O HACKER DEIXOU RASTROS

A identificação de Luan foi possível por causa do email que ele usava desde 2017 (“luanbgs22@”), que estava associado a várias contas pessoais e atividades online dele. Ele usava esse email para criar contas em fóruns, editar páginas no GitHub com ferramentas de ataque cibernético, e até para registrar domínios de projetos de hacking.

Um dos detalhes que chamou a atenção foi uma frase que ele usava no Instagram: “I Protect the hive. When the system is out of balance, I Correct” (algo como “Eu protejo a colmeia. Quando o sistema está desequilibrado, eu corrijo”). Essa mesma frase e o email estavam ligados à conta @equationcorp no Twitter.

O cara ainda usava vários apelidos nas redes, como NatSec, NetSec, LLTV, LBG91 e Labs22. A CrowdStrike diz que ele não tinha muito conhecimento técnico no começo, o que facilitou a identificação, principalmente por causa de fotos de perfil e emails.

A VAIDADE DO CRIMINOSO

A vaidade é comum entre cibercriminosos que atacam grandes empresas. Entre 2021 e 2022, outro grupo chamado Lapsus fez o mesmo, atacando empresas como Samsung, Claro, Ministério da Saúde, Rockstar, NVIDIA, JBS e outras.

O USDoD seguiu um caminho parecido. O líder do grupo deu uma entrevista ao site DataBreaches.net em 2023, o que ajudou ainda mais na sua identificação. Na entrevista, ele disse que tinha cerca de 30 anos, dupla cidadania (Brasil e Portugal) e que atualmente morava na Espanha.

Ele contou que começou em 1999, quando tinha 11 anos e entrou numa comunidade brasileira de jogos. Lá, usou suas habilidades para derrubar um pedófilo e foi incentivado por um desenvolvedor do software r3x a aprimorar suas habilidades.

Mas em 2023, ele percebeu que estava se entregando demais e disse no X (antigo Twitter) que todas as informações públicas sobre ele eram desinformações, e até afirmou que tinha cidadania norte-americana.

Não foram só emails e contas de fóruns que entregaram Luan. Em julho de 2024, o fórum cibercriminoso BreachForums sofreu um vazamento que expôs até o IP de seus usuários. Com esses dados, a CrowdStrike descobriu que Luan enviava mensagens de um ISP brasileiro com GeoIP em Minas Gerais.

Em resumo, a CrowdStrike já entregou todas as informações para as autoridades e acredita que o USDoD vai continuar com suas atividades, mas que Luan deve negar as informações ou tentar convencer a galera de que eles erraram ao vinculá-lo ao grupo.

A CrowdStrike afirma que Luan B.G. ainda quer ser reconhecido nas comunidades hacktivistas e cibercriminosas, então provavelmente não vai parar tão cedo.