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| Imagem criada por IA - Papo de Jacaré |
O anúncio de tarifas punitivas de 20% a 50% sobre produtos brasileiros por Donald Trump, respaldado pelo Secretário de Estado Marco Rubio, representa muito mais que uma guerra comercial. É o componente econômico de uma ofensiva política orquestrada contra a democracia brasileira, cujo marco fundamental foi o golpe de estado do 8 de janeiro. Esta investida, que tem como peça do jogo, as sanções pessoais ao Ministro do STF Alexandre de Moraes, expõe uma estratégia multifacetada para intimidar as instituições que garantiram a sobrevivência da República brasileira e influenciar fortemente as eleições de 2026.
A causa imediata do "tarifaço" trumpista é eleitoral - buscar votos no "Cinturão da Ferrugem" americano - mas sua motivação profunda é política. O alvo declarado do Secretário de Estado Marco Rubio, antigo crítico do Brasil e aliado de Jair Bolsonaro, é o Ministro Alexandre de Moraes. As sanções pessoais impostas ao magistrado e sua esposa, sob a acusação espúria de "perseguição política", constituem interferência inédita e grave na soberania judicial brasileira. Moraes, que como presidente do TSE garantiu eleições limpas e como relator do STF desarticulou os financiadores do 8 de janeiro, tornou-se o símbolo da resistência democrática que o bolsonarismo quer ver destruída.
A resposta do governo Lula foi um caso de escola na defesa da soberania. Ao acionar a OMC e denunciar a violação do direito internacional, Lula não defendia apenas produtos, mas o princípio de autodeterminação dos povos. A postura firme, recebendo apoio transversal no Congresso e na maioria inquestionável da população brasileira, projetou o Brasil mundialmente como bastião da democracia, contrastando com o governo Trump, que na figura do cubano Secretário de Estado, acolhe abertamente a agenda dos derrotados no 8 de janeiro. Sim, porque a consolidação das eleições presidenciais de 2022, ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023.
O PARADOXO E A ARMADILHA: INFLAÇÃO E O ACENO ENGANOSO
Ironia do conflito, as tarifas trouxeram alívio involuntário à inflação dos alimentos no Brasil, ao segurar parte da commodity no mercado interno. Este respiro econômico, porém, é mero efeito colateral diante da armadilha maior revelada no "aceno" de Trump a Lula durante a Assembleia Geral da ONU. O gesto, que provocou inédita frenesi midiática, era isca para forçar reunião na Casa Branca onde Lula seria pressionado a negociar suas instituições - especificamente, o STF e a pessoa de Moraes - em troca de alívio comercial.
O Itamaraty, já escaldado pelas humilhações impostas ao Presidente da Ucrânia e ao Presidente da África do Sul, busca realizar esta reunião em local neutro , ou em último caso, por telefone ou por conversa de vídeo. E as negociações, se ocorrerem, serão em campo minado. Lula focará em Aviação (Embraer-Boeing), Aço (isenções tarifárias) e Tecnologia (regulação de Big Techs) - setores de interesse nacional. Mas Trump e Rubio tentarão impor pauta política ideológica com benefícios ou até mesmo anulação da sentença a Jair Bolsonaro. Ceder seria legitimar a interferência estrangeira e enterrar a soberania nacional.
Por outro lado, Trump é conhecido por ser um excelente negociador as portas fechadas, o que pode ser usado por Lula para oferecer um confortável aceno no setor das minerações de terras raras.
O DESESPERO BOLSONARISTA E A FRAQUEZA EXPOSTA
O reconhecimento tácito por Trump, colocando Lula como interlocutor legítimo no seu discurso da ONU, foi terremoto no já frágil quartel-general bolsonarista. A narrativa de "Trump salvador" desmorona quando o próprio ídolo trata com o governo que chamam de "ditadura". Em Washington, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foram vistos em delírio de desespero, tentando sem sucesso convencer aliados republicanos de que o gesto era "falso". A cena mostrou a completa irrelevância política a que foram relegados.
Claro que a expressão de Marco Rubio na plateia da ONU, não foi nada amigável. Mas Trump é um empresário por excelência. Para ele, a ideologia da extrema direita não passa de uma ferramenta de negócios. Portanto, seria talvez de imaginar que a influência de Marco Rubio no gabinete de Trump, não seja assim tão inquestionável.
Ou que talvez, os efeitos negativos das tarifas dentro do próprio território norte americano, esteja fazendo com o Secretário de Estado veja diminuir sua influência sobre o mandatário da Casa Branca.
Enquanto isso, no Congresso Brasileiro, a base bolsonarista, que já perdera força com a prisão de Jair Bolsonaro e seus financiadores, vê definhar sua última tábua de salvação internacional.
Os eventos recentes confirmam que a investida de 8 de janeiro não terminou. Apenas migrou para uma guerra híbrida, travada em novas frentes: econômica (tarifas), diplomática (sanções) e de desinformação (a máquina de fake news amplificada por figuras internacionais). As sanções a Moraes são, neste contexto, um 8 de janeiro por procuração, na tentativa de conseguir por pressão externa, o que não se conseguiu com quebradeira e terrorismo doméstico.
Isso explica o desespero bolsonarista em Washington e no Congresso, depois da abertura ao diálogo que Trump disponibilizou publicamente a Lula na ONU. Trump não é conhecido por “rasgar seda” para quem ele considera adversários. Portanto, há uma nova luz no fim do túnel.
O GAMBITO DA RAINHA E A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA COMO ÚNICO CAMINHO
No tabuleiro deste xadrez geopolítico, as possibilidades de sucesso nas negociações são tênues, mas possíveis. Até agora, o governo Trump tem movido só os peões para pressionar o Brasil. Mas depois da ONU, o jogo agora é das Rainhas e Reis. Cavalos, bispos e torres fazem apenas movimentos estratégicos. Nestas peças leia-se o Itamaraty e o Departamento de Estado dos EUA.
No Xadrez o Gambito da Rainha é um movimento que sacrifica uma peça para garantir a vitória no jogo pela Rainha. Qualquer avanço dependerá da capacidade brasileira em separar comercial do político, mas possível, já que Trump declarou que negocia com quem ele gosta e a suposta “química” com Lula indica isso.
No entanto, a negociação entre Lula e Trump é um jogo de alta complexidade, onde o Brasil busca converter uma crise imposta em oportunidades concretas, defendendo intransigentemente sua soberania.
Trump utiliza o "tarifaço" e as sanções ao ministro Alexandre de Moraes como um gambito – um sacrifício inicial para forçar o Brasil a ceder em suas instituições, especialmente as investigações do 8 de janeiro.
A defesa e contra ataque de Lula se baseia na defesa Incondicional da soberania, isolando o tema judicial, tratando-o como uma linha vermelha intocável.
As negociações devem focar numa agenda de oportunidades estratégicas. Lula redireciona o diálogo para interesses nacionais vitais, focando em revogação das tarifas do aço, alumínio e etanol.
Na aviação, retomar a parceria estratégica entre Embraer e Boeing e na tecnologia, atrair investimentos de Big Techs em data centers e pesquisa radicados no Brasil, sem abrir mão da sua regulamentação imprescindível para os interesses brasileiros, tanto econômicos como políticos. E finalmente, a trunfo magnífico das Terras Raras, oferecendo este ativo estratégico – crucial para a tecnologia de ponta e a defesa dos EUA – não como commodity bruta, mas como base para uma parceria que inclua refino e industrialização no Brasil, com transferência de tecnologia.
O resultado tático será, caso a postura firme de Lula se mantenha e somada ao trunfo das terras raras, esvazie politicamente o bolsonarismo e coloca o Brasil em posição de barganha única. O sucesso será medido pela capacidade de obter avanços setoriais sem negociar um milímetro da soberania nacional, transformando uma investida hostil em alavanca para o desenvolvimento.
A postura intransigente na defesa de Moraes e do STF fortalece Lula perante o eleitorado que vê na democracia valor inegociável. Mostra que sua liderança é dique contra o avanço do autoritarismo global. Para a oposição bolsonarista, é o fim do mundo: seu principal aliado externo negocia com o governo que juram destruir.
A lição é clara: a soberania brasileira esteve e ainda está sob ataque, mas cada tentativa de quebrá-la - seja pelo terrorismo de 8 de janeiro ou pelas sanções de Washington - só tem servido para fortalecer as instituições e unir o país em torno da defesa incondicional de sua democracia. O Brasil não negociará seus juízes, suas leis ou sua verdade em troca de tarifas. Essa é a linha que não será cruzada - e que define o futuro não apenas do governo Lula, mas da própria continuidade democrática brasileira.
E o maior gambito sacrificado será Jair Bolsonaro e o bolsonarismo, em favor da jogada maior da Rainha, que é a Democracia Brasileira.
Eli Mariotti
