O GOVERNO MILICIANO. O RIO SOB TERROR DE ESTADO



A megaoperação policial que varreu o Complexo da Penha e do Alemão nesta terça (28) entra para a história não pela eficácia, mas pelo horror. Os mais de 120 mortos, no que se tornou a ação mais letal da história do Rio de Janeiro mostra que por trás dos números, que o governo estadual tenta justificar como “confrontos” com o tráfico, há um rastro de dúvidas sobre as reais motivações, a seletividade da força e o preço pago em vidas humanas em plena temporada eleitoral.

Como se não pudesse ficar pior, no dia seguinte, os próprio moradores tiveram que resgatar dezenas de cadáveres nas matas próximas ao entorno da operação. Uma obrigação legal do Estado.

O governador Cláudio Castro, expressão da extrema direita e da política de extermínio travestida de “lei e ordem”, promoveu um verdadeiro *terrorismo de Estado*. Enquanto ele acusa o tráfico de praticar “narcoterrorismo”, o que se viu foi o Estado aterrorizando as comunidades, com um contingente de 2.500 policiais mobilizados contra uma única região Rio e uma única facção — o Comando Vermelho.

A pergunta que ecoa é simples e perturbadora: por que tamanha concentração de força? Por que a Penha/Alemão sob o domínio do CV e não uma ação mais ampla que atingisse também outras facções, como o Terceiro Comando Puro ou os Amigos dos Amigos? E, principalmente, por que não enfrentar as milícias — grupos formados em sua maioria por agentes de segurança da ativa, da reserva ou exonerados (expulsos) — que controlam vastos territórios do estado, elegem representantes nas casas legislativas, assim como prefeituras e são tratados com condescendência pelo poder público no estado?

Há uma suspeita grave pairando sobre o ensanguentado ar carioca, o uso do aparato policial como instrumento político para limpar áreas dominadas por facções rivais e abrir caminho para a expansão miliciana. Essa dinâmica perversa transforma a violência em ferramenta eleitoral e o sofrimento das favelas em palanque. Não à toa, as milícias, assim como as facções, já se infiltraram na política institucional, tecendo uma rede de poder que une o crime, a economia ilegal e o Estado.

Em meio as mortes, o governador politizou ainda mais o episódio, afirmando que o Rio “estava sozinho” e não recebeu apoio do governo federal. A acusação soa oportunista: Castro nunca solicitou ajuda ao Governo Federal e foi um dos mais duros críticos da PEC da Segurança Pública, que justamente buscava integrar esforços entre estados e União. O discurso de isolamento, portanto, registra mais uma peça de campanha do que um fato administrativo.

É justamente essa integração com o Governo Federal que se faz urgente e indispensável. O crime organizado já não é mais local — ele é interestadual e internacional. O enfrentamento eficaz exige medidas conjuntas: inteligência policial compartilhada, rastreamento de fluxos financeiros, controle integrado de fronteiras, coordenação das forças de segurança e políticas sociais permanentes que ocupem o espaço deixado pela ausência do Estado nas comunidades. Sem essa cooperação estratégica, as operações continuarão sendo paliativos brutais, produzindo mortes sem atingir o coração do problema.

A Operação Carbono Oculto foi uma megaoperação deflagrada em 28 de agosto de 2025 que tinha como alvo um sofisticado esquema de fraudes, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal no setor de combustíveis, vinculado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e não teve uma morte sequer, seja do lado das forças de segurança ou do crime.

Essa operação é um importante exemplo que marca um passo decisivo no combate ao crime organizado, pois mostra como grupos criminosos passaram a se infiltrar e se beneficiar não só de atividades típicas de tráfico, mas também da economia formal — como o setor de combustíveis e o mercado financeiro — operando de maneira nacional e sofisticada.

A suspeita de que a operação no Complexo da Penha e do Alemão teve motivações eleitorais é inevitável. 
- O Doca, o chefe do tráfico e objetivo da operação nos complexos, foi preso ou morto?
- Em que circunstâncias houve tantas execuções nas matas do entorno dos complexos?
- O Complexo do Alemão e da Penha estão livres do tráfico? O estado retomou os territórios?
Não há respostas para estas perguntas nas declarações do Cláudio Castro ou do comando da operação.

Em épocas de disputa por votos, a vida nas comunidades parece perder valor. A ação na Penha soa como um recado político — um espetáculo sangrento voltado a setores do eleitorado que aplaudem o discurso da violência como solução, enquanto as famílias das vítimas choram sem voz nem justiça.

No Rio, não existe uma face do estado que ouça estas vozes, que vivem assustadas e com medo. O Crime não pode ser mais forte que o Estado, que também não pode ser mais criminoso que o Crime.

A história mostra que regimes autoritários sempre tentam vender força como sinônimo de ordem. Em 1929, o ditador fascista Benito Mussolini declarou ter “eliminado a máfia”. Quase um século depois, a máfia continua viva — assim como o crime organizado e as estruturas de poder que se alimentam dele.

Da Penha e do Alemão emerge um grito que o Brasil não pode ignorar, está mais do que na hora da população, especialmente as comunidades reféns do crime e da violência estatal, banir da política os extremistas que fazem do sangue um projeto de poder. O voto é secreto, mas a consciência é pública.

No entanto, a medida mais vital para evitar mortes é a ocupação pós-confronto. A presença do estado não pode terminar com o último tiro. É imperativa a entrada imediata e massiva de políticas públicas nas comunidades em poder do crime: segurança comunitária(UPPs), escolas, postos de saúde, programas de renda e acesso à Justiça.

Fato é que morreram 4 policiais, um deles com apenas 40 dias de corporação. A pergunta é: Quantos criminosos e quantos civis inocentes foram assassinados lado a lado nesta operação desastrada e trágica? O Estado irá fazer essa separação na contagem dos mortos?

É preciso lembrar que, além da urgente mudança nas políticas de Segurança Pública, como a PEC da Segurança que o Congresso tem obrigação de aprovar, é também nas urnas, que o país pode, enfim, romper o ciclo de fascismo, conivência e morte — e escolher um caminho onde segurança não signifique massacre, e a política não continue lavada no sangue do seu próprio povo.

É preciso banir da política a escória assassina da extrema direita, que tem na figura do Governador Cláudio Castro, um de seus mais significativos expoentes no Rio de Janeiro.

Eli Mariotti