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| Imagem: ClickPB |
A política paraibana caminha para 2026 como um terreno ainda em ebulição, onde nada está completamente definido e quase tudo está sendo negociado. Sob a superfície das alianças aparentemente estáveis, o que se vê é um jogo de reposicionamento em que o Partido dos Trabalhadores ocupa um lugar paradoxal: forte do ponto de vista simbólico e eleitoral, sobretudo pela ampla aprovação do presidente Lula no estado, mas ainda em busca de uma tradução clara desse capital político no tabuleiro local. A Paraíba segue sendo um dos estados onde o lulismo encontra maior ressonância popular, o que confere ao PT uma centralidade silenciosa, porém decisiva, nas articulações que se desenham.
Esse protagonismo, no entanto, não se converte automaticamente em comando. O PT paraibano, atualmente presidido pela Deputada Estadual Cida Ramos, atravessa um momento de reflexão e tensão interna, tentando equilibrar sua identidade histórica de esquerda com o pragmatismo exigido pelas disputas regionais. A legenda conversa com diferentes campos, observa os movimentos dos aliados tradicionais e evita anunciar decisões precipitadas. Há um cuidado visível em não repetir erros passados, quando alianças garantiram presença institucional, mas custaram caro em termos de narrativa, autonomia e capacidade de se apresentar como sujeito político diante do eleitorado.
No centro desse xadrez estão figuras já conhecidas do eleitor paraibano, mas também personagens cuja força reside justamente na estabilidade. O governador João Azevêdo, do PSB, mantém-se como um dos principais polos de poder, líder das pesquisas para o Senado, com forte inserção administrativa e bom trânsito junto ao governo federal. Seu nome circula tanto em projeções para o Senado quanto como referência da continuidade de um campo progressista ampliado no Congresso nacional.
Caso essa movimentação se confirme, a engrenagem institucional do estado passa a girar em torno de outro ator: o vice-governador Lucas Ribeiro. Ligado ao Progressistas e com trânsito não tão fluido entre o centro político, o empresariado e nenhum na base governista, Lucas representa uma suposta continuidade administrativa sem nenhuma identidade com a esquerda, mas com intenção de ocupar o centro do poder, deslocando o debate do eixo clássico esquerda versus direita para uma lógica de estabilidade e transição geracional.
Esse redesenho do campo governista se cruza com outra articulação de peso: a reeleição do senador Veneziano Vital do Rêgo. Veneziano surge como uma âncora política de longo curso, com base eleitoral consolidada e capacidade de diálogo tanto com o lulismo quanto com setores mais tradicionais da política paraibana, além de registrar o segundo lugar nas pesquisas ao Senado. Sua possível presença na chapa de Cícero Lucena confere densidade nacional e institucional a um projeto que, até pouco tempo, poderia ser visto apenas como local. Ao vincular Cícero a Veneziano, constrói-se uma chapa que combina força municipal, capilaridade estadual e trânsito em Brasília, reduzindo riscos eleitorais e ampliando a competitividade do campo de centro-governo.
Para o PT, essa equação está nos cálculos. Veneziano, deixando de lado rusgas passadas, é um aliado confiável do governo Lula no Senado, alguém com quem o partido dialoga sem atritos ideológicos profundos. Uma chapa Cícero–Veneziano tende a atrair naturalmente o eleitor lulista moderado, criando um ambiente em que o PT pode ser chamado a apoiar sem necessariamente liderar. O risco, novamente, é a diluição: ao aderir a uma chapa desse tipo sem contrapartida prática, e por consequência simbólica, o partido pode reforçar a percepção de que sua função é apenas somar votos e não formular projetos.
Ao mesmo tempo, essa composição pressiona o campo liderado por João Azevêdo e Lucas Ribeiro. A disputa deixa de ser apenas sobre continuidade administrativa e passa a envolver musculatura eleitoral e articulação nacional. Com Veneziano no jogo pela reeleição, 2026 tende a se transformar menos em uma eleição de enfrentamento ideológico e mais em uma competição entre arranjos políticos amplos, todos orbitando, de alguma forma, o lulismo, mas sem que o PT seja necessariamente o centro visível dessas construções.
Nesse cenário, a hipótese de múltiplos palanques para Lula na Paraíba ganha contornos ainda mais claros. O presidente aparece como ponto de convergência, enquanto as disputas reais se dão em torno de quem administra o poder local e como esse poder se organiza. O contraste entre a força eleitoral do PT nas eleições presidenciais e sua dificuldade em liderar projetos majoritários estaduais se aprofunda, revelando um partido grande demais para ser ignorado e, paradoxalmente, pouco presente na linha de frente do debate.
Pesquisas de intenção de voto reforçam esse quadro: nomes associados à continuidade, à estabilidade e à articulação institucional largam em vantagem, enquanto o discurso de ruptura perde espaço. Para a esquerda, isso impõe um desafio adicional: como disputar hegemonia política em um cenário que privilegia o consenso e penaliza o conflito programático?
Às vésperas de 2026, o Partido dos Trabalhadores na Paraíba parece viver um momento decisivo de autoavaliação. Entre a força simbólica do lulismo, a ascensão de figuras de direita como Lucas Ribeiro, a consolidação de uma possível chapa Cícero–Veneziano e a permanência de lideranças tradicionais, o partido caminha sobre uma linha estreita entre governabilidade e identidade. O desfecho dessa travessia não definirá apenas alianças eleitorais, mas o lugar que a esquerda ocupará no imaginário político paraibano nos próximos anos.
